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Um surto infeccioso pode terminar de várias maneiras, dizem os historiadores. Para quem termina e quem decide? Quando e como terminará a pandemia da Covid-19? Esses são questionamentos que fazem parte de um artigo publicado no New York Times do último final de semana. Segundo os historiadores, as pandemias costumam ter duas categorias de término: a médica, que ocorre quando as taxas de incidência e mortalidade reduzem, e a social, quando a epidemia de medo da doença diminui. Um fim pode ocorrer não porque uma doença foi vencida, mas, porque as pessoas se cansam de ter medo e aprendem a viver com ela.
Os historiadores, ao analisarem as pandemias dos últimos séculos, como a peste-negra e a gripe espanhola, dizem que são poucas as informações sobre o que levou ao fim social dessas doenças, mas com certeza não foi a cura. No entanto, em algum momento isso ocorreu e a vida teve a sua continuidade.
Entendo que, em não havendo uma medida impositiva, determinando que todos fiquem em casa, o fim social da pandemia é uma possibilidade iminente e será determinada não pelos dados médicos e de saúde pública, mas pelos dados sociopolíticos. Não obstante, a ampla cobertura da imprensa mundial e as provas abundantes de que a doença pode ser letal, há pessoas que ainda não acreditam nos fatos e desrespeitam qualquer regra de distanciamento. Somam-se a essas as que, cansadas das restrições, já não têm tanto medo da morte. Tem, também, aquelas que por sobrevivência, retornam ao trabalho informal, dando por encerrado o isolamento. Todas essas pessoas são, direta ou indiretamente, incentivadas por alguns gestores públicos que entendem que a vida deve voltar ao normal para não agravar a crise financeira, desafiando os avisos das autoridades de saúde pública de que tais medidas são prematuras.
Além desses fatores, o que dificulta a luta contra o vírus é a sua natureza invisível e intangível de propagação. O artigo: Inércia das Ideias, publicado no site Rua Larga, em 23 de abril, diz que as informações que desafiam padrões estabelecidos são, normalmente, recebidas com resistência, tanto em indivíduos quanto em grupos. Tal artigo traz vários exemplos de acontecimentos históricos resultantes da inércia cognitiva, inclusive a que impediu a sociedade americana de se preparar para a peste de 1918.
Uma citação do artigo merece destaque e, de certa forma, explica as razões pelas quais é tão difícil reconhecer a necessidade do distanciamento, que é o relato da ucraniana Svetlana Aleksiévitch, Prêmio Nobel de Literatura, em Vozes de Tchernóbil. Ela captou o estranhamento dos moradores mais velhos de Prípiat, cidade próxima da usina, nos dias seguintes da explosão do reator nuclear, quando ao serem evacuados e ainda sem perceberem que seria para sempre, olhavam para o céu e diziam: "O sol está brilhando, não se vê fumaça nem gás. Não se escutam tiros. Como isso pode ser uma guerra?", pois, estavam acostumados com algozes humanos e muitos pereceram por resistir à ideia de um inimigo invisível em forma de radiação.